06 julho, 2016

Crise… Mudança… e as Pessoas?


Integradas num ambiente em mutação, as organizações promovem transformações que lhes permitam ser competitivas, assumindo os despedimentos maciços de pessoal como a solução ideal. A redução da força de trabalho, num tempo de crise como é este em que vivemos, é encarada como uma tentativa de minimizar custos, racionalizar recursos. Esquecem-se, todavia, que esta medida gera enormes custos, humanos e financeiros, constitui uma irracionalidade total, não tendo quaisquer efeitos benéficos para a organização. Mais grave, muitas vezes os despedimentos servem para encobrir erros de gestão (ou são a consequência destes), resultam da incapacidade de encarar os verdadeiros problemas, ou funcionam como uma simples medida paliativa para um mal que mais dia menos dia voltará a surgir, levando a nova vaga de despedimentos.
Mas a redução de pessoas não é uma resposta apropriada a problemas competitivos resultantes da fraca qualidade, ausência de flexibilidade, lacunas de formação, incapacidade para enfrentar as estratégias dos concorrentes,… Se estes e muitos outros são os reais problemas com que as organizações se defrontam, a redução de pessoas, o recurso aos despedimentos, muito provavelmente duplicará a dificuldade em os solucionar.
Todos sabemos que há períodos de crise, de declínio, em que os despedimentos são inevitáveis. Mas também é verdade que o declínio não surgiu repentinamente. É, antes, resultado de uma degradação que se começou a verificar tempos atrás, e que a gestão foi incapaz de enfrentar atempadamente, acabando por sofrer quem menos contribuiu para aquela situação, as Pessoas.

Esta forma de solucionar os problemas mostra-se dispendiosa já que pode conduzir a uma deterioração da motivação dos sobreviventes, a uma quebra da qualidade do trabalho e produtividade, a uma degradação da imagem da empresa,… Mais ainda, como irão reagir os novos colaboradores das empresas cuja imagem foi denegrida pelos despedimentos? Irão dedicar-se a uma empresa que lhes pode vir a fazer o mesmo? Como se vão sentir e comportar, doravante, os sobreviventes de um despedimento muitas vezes incorreto ou injustificado, quando sabemos que é com estes que a empresa vai lutar pela sua competitividade? 

Carolina Machado
Professora Associada
Escola de Economia e Gestão
Universidade do Minho