07 junho, 2017

Quer mesmo ser chamado para uma entrevista de emprego?



Encabeço a direção de gestão do Theatro Circo e, para além da área financeira, tenho os recursos humanos sob a minha alçada. No âmbito dessas funções recebo por vezes currículos de candidatos e é preocupante perceber que a maioria, especialmente os mais jovens, não faz a menor ideia do que procura e valoriza um empregador. Resolvi escrever, para registo futuro, o que considero serem os erros mais comuns nas candidaturas espontâneas baseada na minha experiência pessoal, esperando sinceramente que daqui retirem alguma utilidade.
 
1. Um CV demasiado longo e com anexos irrelevantes: notas escolares, certificados de participação em conferências, portfolios de trabalhos académicos… Um rol de irrelevâncias, que curiosamente costuma ser proporcional à falta de experiência de trabalho, talvez numa tentativa inocente de a compensar. Ponham-se por momentos na pele de quem recebe dúzias de currículos. Não pretendemos gastar mais de dois minutos a analisar cada um. Quantidade não é qualidade, além de que um empregador normalmente valoriza a objetividade e o poder de síntese. Por isso, foquem-se no relevante e esqueçam de uma vez o acessório.

2. Não enviar uma carta de apresentação a acompanhar o CV, que explique o motivo que o leva a concorrer e a função pretendida. Mais parece um envio em série em que só alteraram o destinatário. Pensem com calma em que setor gostariam de trabalhar. Pesquisem sobre as empresas com as melhores práticas e onde poderão crescer profissionalmente. Leiam sobre o que fazem, o que pensam os seus gestores. É informação que costuma marcar pontos nas cartas de apresentação e que hoje em dia está ao alcance de um click. Depois acompanhem o CV com uma carta personalizada e dirigida à pessoa certa. Quem emprega quer sentir que a sua empresa é especial para quem a procura. E acertar no alvo costuma ser mais fácil quando se faz pontaria primeiro.

3. Escrever em mau português. Erros gramaticais e textos desestruturados revelam uma formação incipiente e alguma desorganização mental. A redação deve ser objetiva, educada e gramaticalmente correta. Para além disso há uma regra-chave que deve ser seguida quando se escreve qualquer texto: introdução, desenvolvimento (se longo, por tópicos) e conclusão. Fácil. Redigir bem e saber comunicar corretamente são, de igual modo, qualidades essenciais para se evoluir na carreira. O melhor conselho que posso dar nesta matéria é que invistam na vossa cultura geral e que leiam bons livros.

4. Descuidar a apresentação. O CV deve ser mais do que um documento meramente expositivo de graus académicos, experiências e competências, que se usa de forma padronizada. Tem de causar impacto e dar-nos vontade de conhecer melhor o candidato. O Europass é prático e uniformiza a leitura mas é, no mínimo, aborrecido e pouco original. Por isso aproveitem a metodologia, mantenham uma imagem de profissionalismo, mas criem o vosso próprio formato. Organização, relevância, objetividade, singularidade e sentido estético são os pontos que valorizo.

5. Enviar o CV em word. O formato preferível é sempre o PDF. É não editável, o que garante a integridade da informação, e está pronto a imprimir sem necessitar de configurações adicionais. Pessoalmente gosto de ler a carta de apresentação no próprio texto do e-mail e ter o CV como anexo. Mas integrá-los num único documento também é uma boa opção porque assim asseguram que os documentos nunca serão separados quando forem arquivados e consultados posteriormente.

6. Passar uma mensagem pouco profissional. Fotos a fazer beicinho, em ambientes de copos e em poses provocantes são mais apropriadas para as redes sociais. Acreditem, já recebemos de tudo. Ah, e se têm apenas um endereço de e-mail e ele é do tipo anamokas@ ou ruibejecas@ provavelmente está na altura de criar outro.

Claro que nem todos os CV que recebemos são deste tipo e felizmente há exceções. Lembro-me especificamente de um jovem candidato ter conseguido uma entrevista de emprego numa altura em que nem sequer estávamos a contratar. A forma esclarecida como se dirigiu à pessoa com quem gostaria de trabalhar, o propósito da sua candidatura, o conhecimento que revelou da estrutura e o seu entusiasmo latente impressionou. Adivinham o que aconteceu?

Daniela Queirós
Diretora de Gestão do
Theatro Circo de Braga EM, SA